30 março 2012

Ed Bing Lee - esculturas de linhas

 Desde a década de 70 Ed Bing Lee se dedica a estas esculturas de linhas. Uma tecelagem inspirada em formas orgânicas e também na arte pop, onde cada fracção de cor ou ponto tecido se une a outros gerando formas e significados distintos que muitas vezes só têm sentido em conjunto. Filho de uma costureira chinesa, conta que desde criança que está habituado a este universo de linhas e agulhas. Seu design envolve uma gama inusitada de materiais, como fitas de embalagem de presente e sacos plásticos velhos - além das linhas e tecidos comuns à técnica.  
 

 

27 março 2012

Colhe o Dia, porque És Ele

Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem: outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.

Por que tão longe ir pôr o que está perto —
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.

Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.

Fernando Pessoa - Ricardo Reis, in "Odes"

24 março 2012

A Idade só se Aplica às Pessoas Vulgares

A tendência para colocar uma ênfase especial ou organizar a juventude nunca me foi cara; para mim, a noção de pessoa velha ou nova só se aplica às pessoas vulgares. Todos os seres humanos mais dotados e mais diferenciados são ora velhos ora novos, do mesmo modo que ora são tristes ora alegres. É coisa dos mais velhos lidar mais livre, mais jovialmente, com maior experiência e benevolência com a própria capacidade de amar do que os jovens. Os mais idosos apressam-se sempre a achar os jovens precoces demasiado velhos para a idade, mas são eles próprios que gostam de imitar os comportamentos e maneiras da juventude, eles próprios são fanáticos, injustos, julgam-se detentores de toda a verdade e sentem-se facilmente ofendidos. A idade não é pior que a juventude, do mesmo modo que Lao-Tsé não é pior que Buda e o azul não é pior que o vermelho. A idade só perde valor quando quer fingir ser juventude. 
Hermann Hesse, in 'Elogio da Velhice'


23 março 2012

Guardar o momento: as esculturas de Ricky Swallow

As esculturas mais conhecidas de Ricky Swallow congelam o mundo em madeira.   Meticulosamente esculpidas à mão, parecem naturezas-mortas holandesas do século 17, transportadas para a actualidade. Todo o trabalho deste artista nascido em San Remo, Australia, em 1974 , que vive em Los Angeles, está cheio de paradoxos sobre a vida. Uma de suas obras-chave é Killing Time de 2003 ( incluído no  pavilhão da Austrália na Bienal de Veneza 2005) representa um banquete em tamanho natural de madeira, procurando  fixar para sempre as delícias terrenas perecíveis ,celebra a alegria de estar vivo ao mesmo tempo  que alerta sobre a temporalidade das coisa. Há aqui uma história pessoal: o quadro teve por base a casa da sua família, a comida que ele descreve foi inspirada nas memórias de infância, do peixe capturado com seu pai.
 
 
 
 
 
 

20 março 2012

Clandestinidade

Secreto me acho
e secreto me sentes
quando
secreto me julgas,
Impuro me reconheço
quando
o nosso silêncio
são vozes turbas.
Dúbio é o desejo
quando
não é transparente
a água em que se deita
precavidamente.
Clandestinos somos
quando
o que somos
teme a face que pesquisa.
Os olhos são claros
quando
a superfície do espelho
é lisa.
Fernando Namora, in 'Marketing'

16 março 2012

El Anatsui, , transformando o comum em peças de uma beleza extraordinária

Brahim EL ANATSUI é hoje reconhecido como um dos principais escultores do nosso tempo. Ao longo de sua longa carreira, El Anatsui explorou o significado dos materiais que nos rodeiam na vida diária. A tampa de garrafa de uísque pode ser utilizado não só pela sua aparência brilhante, mas também para nos lembrar da história da bebida como um produto que os europeustrocavam por escravos ao longo da costa Oeste Africano Os materiais preferidos El Anatsui são o metal, o barro e a madeira, recorrendo também à reciclagem de todo o tipo de desperdícios como latas, papeis usados etc., que usa para criar objectos baseados nas crenças tradicionais do Gana entre outros assuntos. Nota-se uma série de temas recorrentes na arte de Anatsui.  Um deles é a destruição e a reconstituição de materiais como metáforas para a vida, experiência, e as mudanças na África do colonialismo e desde a independência.  Um segundo tema é associado com os têxteis e o artesanato tradicional Africano. Algumas de suas obras assemelham-se a panos tecidos, onde incorpora desenhos e símbolos tradicionais tanto da Nigéria como do Gana. As qualidades estéticas de seus painéis de parede, formados a partir de tiras de madeira ou metal colocadas lado a lado, são intensificadas pela inclusão de várias cores diferentes madeiras tropicais.

"New wood has poetry locked in it,
Old wood is poetry itself, time having worn off the prose."  El Anatsui, 2003

Em Outubro de 2010 foi inaugurada no Royal Ontario Museum (Toronto, Canadá) uma retrospectiva do seu trabalho, com o título When I Last Wrote to You About Africa , que estará em circulação na América do Norte até 2013.
 
 

13 março 2012

Amo-te no Intenso Tráfego

Amo-te no intenso tráfego
Com toda a poluição no sangue.
Exponho-te a vontade
O lugar que só respira na tua boca
Ó verbo que amo como a pronúncia
Da mãe, do amigo, do poema
Em pensamento.
Com todas as ideias da minha cabeça ponho-me no silêncio
Dos teus lábios.
Molda-me a partir do céu da tua boca
Porque pressinto que posso ouvir-te
No firmamento.

Daniel Faria, in "Dos Líquidos"

Viver na Beira-Mar

Nunca o mar foi tão ávido quanto a minha boca. Era eu
quem o bebia. Quando o mar
no horizonte desaparecia e a areia férvida
não tinha fim sob as passadas,
e o caos se harmonizava enfim
com a ordem, eu
havia convulsamente
e tão serena bebido o mar.

Fiama Hasse Pais Brandão, in "Três Rostos - Ecos"

09 março 2012

As surpreendentes instalações de Beili Liu

Beili Liu, (nascida em Jilin, China e vive e trabalha em Austin, Texas) é um artista excepcional, cujas instalações e obras em 2D são surpreendentes tanto pelo efeito visual como pelos conceitos subjacentes a  cada um dos seus projectos.

Diz"Como alguém que vem do Oriente e vive no Ocidente, eu experimentei dois sistemas de valores distintos e muitas vezes contraditórios. Estas experiências interagem e influenciam. me constantemente, às vezes criam conflitos na minha vida, mas outras vezes oferecem grandes inspirações para o meu trabalho"

"Red Thread Legend Series" é um conjunto de instalações da artista, inspiradas numa antiga lenda chinesa que conta que quando as crianças nascem são ligadas por fios vermelhos invisíveis às pessoas com quem estão destinadas a estar durante suas vidas.  A instalação é formada por milhares de discos de fios vermelhos enrolados em espiral que balançam e giram suspensos por fios a pouco centímetros do chão (Prémio ArtPrize, UICA-Fulton).


  “The mending project”é uma performance / instalação que consiste em centenas de tesouras chinês suspensas do tecto em nuvem , com a artista sentada em frente a uma pequena mesa preto, cosendo à mão bocados de tecido que vai acrescentado ao amontoado em nuvem espalhado no chão.


06 março 2012

Amor como em Casa

Regresso devagar ao teu  
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.
 
Manuel António Pina, in "Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde"

02 março 2012

Cerâmicas “sketch” de Katherine Morling

Katherine Morling cria cenas animadas com uma aparência invulgarmente dinâmica para o médio cerâmica. São peças de porcelana monocromática criando uma atmosfera de fantasia nostálgica.Os elementos funcionam em conjunto, relatando cenas do quotidiano. A gestualidade dos contornos desenhados a preto provoca o movimento da história que referem , dando a sensação de terem sido apanhados num momento  de paragem acidental.  Alguns dos seus  trabalhos têm escala real e transportam o espectador numa experiência um pouco surreal, quando se caminha entre as partes das peças.A artista trabalha num dos centros criativos do sul de Londres, o místico New Cross and Deptford.